Milton Cabral
Digital Transition Manager
O lançamento do ChatGPT, da OpenAI, marcou talvez, a massificação do conceito de Inteligência Artificial (IA) e da Inteligência Artificial Generativa (Gen-AI). Serão poucas as pessoas, hoje, que não terão ouvido falar dele e inclusive experienciado a sua utilização. Em apenas 2 meses, o ChatGPT atingiu cerca de 100 milhões de utilizadores. O Facebook, por exemplo, levou quase 5 anos para ter o mesmo número!
Esta tecnologia tem a particularidade de se cruzar com uma das mais elementares características humanas: a capacidade de comunicar. Sendo um bot que utiliza tecnologia NLP, ou Natural Language Processing, este modelo de Gen-AI busca a proximidade natural da conversação humana, tornando-o muito apelativo e compreensível.
Por detrás desta incrível capacidade de comunicação, existe uma enorme capacidade de processamento de informação, que através de avançados modelos estatísticos, feedback humano e machine learning, permitem ao ChatGPT responder já com uma considerável qualidade, desafiando o Teste de Touring.
A partir deste momento, é a imaginação humana a ditar os limites da utilização deste tipo de ferramentas (ou melhor, a retirar os limites da sua utilização). Hoje é possível criarem-se textos, obras de arte, código de programação, integrações entre sistemas complexos, apoiar artigos científicos, tudo com uma incrível facilidade.
Estamos ainda a aprender a lidar com este fenómeno. Pessoas, empresas e a sociedade ainda mal processaram o impacto e já surgem notícias de novas revoluções que levarão a IA a níveis só imagináveis em filmes de ficção científica.
Naturalmente, levantam-se questões de ordem ética e como qualquer tecnologia, a bondade da sua utilização depende sempre da intenção de quem a utiliza, e a Europa tem sido pioneira na sua regulação, embora haja ainda muito caminho por fazer.
Tal como aconteceu sempre ao longo da nossa história, o segredo da nossa evolução nunca se encontrou na negação e repressão das evidências, mas sim na busca pelas oportunidades. Seria inocente e até displicente, ignorar o potencial transformador da IA. Na teoria da evolução das espécies, não é o mais forte, nem o mais inteligente que prospera, mas sim aquele que mais rápido se adapta.
Há ainda uma diferença muito significa neste novo fenómeno. Ao contrário de outras evoluções tecnológicas digitais anteriores, a IA ameaça transformar áreas da sociedade e da economia que pareciam intocáveis, como a arte ou a criatividade. Veja-se a facilidade com que hoje podemos criar imagens, cenários, vídeos, revistas, obras de arte, apenas com a injeção de um conjunto de mensagens de contexto. Ou criar linhas de código em qualquer linguagem de programação. Nunca havíamos recriado estas capacidades humanas em sistemas não humanos, e multiplicado por vários milhões de vezes a capacidade de processamento. Por isso esta tecnologia não tem deixado ninguém indiferente, oscilando entre o entusiasmo e o receio!
Obviamente, a nossa indústria não estará imune ao que aí vem nem à necessidade de criar rapidamente adaptações e procurar oportunidades. Imagine-se a otimização de processos de fabrico, a redução de desperdícios, a previsão da procura e gestão da oferta e das vendas, a monitorização da cadeia de abastecimento e a sua transparência (não podemos esquecer o passaporte digital), o design de produtos mais eficiente e sustentável, a manutenção industrial preditiva, a reciclagem mais eficiente e a monitorização ambiental.
Estando hoje a IA massificada e acessível para todos, importa agir rapidamente. Sobretudo mais que a nossa concorrência, sob pena de ficarmos para trás num mercado altamente exigente e competitivo. Ignorar os sinais e procrastinar a mudança, é arriscar uma sentença severa.
A história parece mostrar-nos o caminho se nos recordarmos dos erros cometidos até meados da década de 90. Portanto, hoje, perante uma das maiores disrupções tecnológicas, a pergunta que se impõe é sobre a posição que queremos ocupar: a liderar a transformação, ou arriscar estar no pelotão!
As PMEs do sector terão de ser alvo de uma atenção muito particular. Este segmento tem tido mais dificuldade no acesso às tecnologias digitais e serviços de qualidade devido à falta de meios e capital, conhecimento e capacidade de implementação.
A Comunidade Europeia, atenda a esta realidade, está a fazer um esforço sem precedentes no aumento da intensidade digital deste segmento. Seja através do PRR, Portugal 2030 ou Horizonte 2030, as PMEs são um dos segmentos mais beneficiados.
Iniciativas como o Digi4Fashion, promovidas pelo CITEVE, CTCP, ATP, ANIVEC e APICCAPS, incentivam a aceleração da inovação digital e a transformação dos modelos de negócios através de ferramentas digitais como a IA, Robótica, IoT entre outras, providenciando serviços especializados e financiados, que de outra forma este segmento teria muita dificuldade em aceder!
Portanto, uma oportunidade única, e com um prazo limitado (até final de 2025), para poderem ter apoio nas áreas que mais necessitam:
Conhecimento |
Execução |
Capital |
- Formação de quadros superiores e intermédios - Formação /ação para empresas - Learning factories - Mentoria |
- Roadmapping digital - Seleção e adocão de tecnologias - Experimentação laboratorial - Validação de tecnologias - Demo labs - Incubação e aceleração |
- Apoio à captação de financiamento público |
Sabemos hoje que a disrupção causada pela IA é real. Haverá certamente impactos menos positivos, mas o momento é de otimismo e de oportunidade para acelerarmos a nossa transformação digital, entrando nesta nova era na frente do pelotão. O momento é agora e a IA é a desculpa que faltava!
Milton Cabral
Digital Transition Manager